Pertenci sempre ao que não está onde estou e ao que nunca pude ser. Tudo o que não é meu, por baixo que seja, teve sempre poesia para mim. Nunca amei senão coisa nenhuma. Nunca desejei senão o que nem podia imaginar.
Fernando Pessoa
Ser ainda onde não se é mais
que este "ainda" a viver.
Edmond Jabès - Angoisse d'une seule fin
[...] como se a totalidade objetiva não preenchesse a verdadeira medida do ser [...]. Nenhuma viagem, nenhuma mudança de clima e de decoração saberiam satisfazer o Desejo que tende [a alhures e ao outro]. O Outro desejado não é como o pão que como, como o país que habito, como a paisagem que contemplo [...]. [...] Desejo de um país onde nós não nascemos. De um país estrangeiro a toda natureza [...] e para onde nós não nos transportaríamos jamais. [...] Ao Desejo, o Desejado não o completa, mas o escava. [...] O Desejo é desejo do absolutamente Outro. Fora da fome que se satisfaz, da sede que se sacia e do sentido que se apazigua, deseja o Outro para além das satisfações, sem que ao corpo seja possível um gesto que diminua o anseio, sem que seja possível ao corpo esboçar uma carícia, nem inventar carícia nova. Desejo sem satisfação que, precisamente, ouve o distanciamento, a outridade e a exterioridade do Outro. (tradução e grifo meus)
Lévinas - Totalité et Infini
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