terça-feira, 30 de julho de 2013

cacos

Este aqui fixa, fixa-aposta que renunciei, de que não sei mais do que se trata, toco o em favor do fora, em nome do que não entra, de parte do que resta, quando se destoca o fixo, precioso entulho enquanto espero, no desfechamento de pobres falas, punhados, aparentemente estilhaços, como se, cada vez que te chamo. Como servir-se do último, o aquilo do impróprio, como construir o lar-lá do sepultado, espaço desse improprietário pronominado, aprontado, para o que só havemos o desvio e esquecimento, o que não diz os sinônimos Aqui, Homem, Deus. Volta ao que ainda não, ao ainda que per-dia, abandonado ao ainda. Um muro: então novamente se diz Eu, afinal no entre, no entre-sobre muro e ruína, no disponível-ruína, no caco-possível, caco-prótese, palavra-caco, condição-escombro, coordenada-eles que serve de meio, que media a vida até aqui.
Onde só restam estilhaços, alguém misteriosamente dispõe de coordenadas, reconhece, orienta, consiste, firma, edifica, fica, sólido, sabe, mede, como quem cumpre o mero é claro, o pronto mero, definido definitivo, abandonado ao certo. Quem vem colar cacos em mim? Talvez eu não emita sons, mas cacos deles. Eu que sei dizer que sou cacos só sei dizer que sou seus cacos e, por que, não sei dizer o que aquilo que resta queria dizer, de onde espero receber, também o que só aceitaria não o ter sido, os cacos do firme, do que os senhores e as senhoras combinaram comigo, diário de quem sabe, que não sei o que se fez se faz com, ruína do que fui e deveria, do que me foram, do que eles êem, desde o qual eu, cacos dessas ruínas, cada vez mais ruínas desses cacos, o que posso ser, e com isso, só com isso é que, só daí o buscar no deserto que silencia. É preciso definir esse outro verbo, mas no deserto só corre o adeus, a risada maliciosa – aliás, o silêncio, talvez – que vem socorrer o fixar, o concluir mero, o que por um momento soube. Onde o tudo da senhora e do senhor terminou há muito, onde acabaram os senhores há distâncias, distante o suficiente para não poder lembrar saber vestir ter discernir ser os senhores as senhoras aqui. Obviamente. E é curioso que fale, que não pare? Penso que não, é preciso ainda sempre mais um outro, os senhores certamente mas sabem até certo ponto, a exigência depois disso, enquanto é preciso nem que seja mais outro inferno.
Improprietário excessivamente no fato de não saber sozinho, no fato de sozinho e no de não saber, por isso o eu, o eu apoio, talvez. Que essa distância siga visível não há nada de mais, mas a palavra que resta, a palavra que falaria depois, que também eu excluo a cada vez que lhe dou vez aqui, talvez desde todo começo possível, cada vez que te chamo, o cúmulo do enjoo, da congestão, palavra-passagem que colide contra cada limite-vírgula, impropositada, a qual os senhores e as senhoras não precedem, caminha a dois com a minha estupidez, ou algo assim, toda dificuldade, talvez.
O que seria de todo o lodo daqui não fossem esses ‘o ques’? O que induz fôlego para o fundo, o que sopra pura indigência diverge porque exverge. Finge-se um fundo? Seria mesmo preciso alimentar a vida dessa pergunta? O depois de tudo, este tudo, mito do fundo, engano que acontece depois do tudo, dizem, o que acontece depois do fundo. O tudo depois, o depois do tudo – o tudo que é misteriosamente mero enclave-tudo dos senhores –, quando fala o que falta e os senhores misteriosamente não ouvem e voltam a encontrar o que encontraram, como me encontraram, e eu volto a perder tempo achado neste pronome, eu-eles, dono do meu caso, que perseguem e persigo, me prendo, prenderam, não escapo, estou preso, não importa, curral que arruíno até o mínimo. Então cantemos, Absolve, Absorve o enfim, Palavra, Aborta-se para o que os interrompe. Lá, nem os cacos, que me apoiam, os cacos, é preciso colocar um ‘eles’ ou ‘deles’ sempre ao lado dos cacos, das ruínas, eles me retomam, me acham, eu sei. Sopro do mínimo do pensamento, aproxílaba caindo em direção ao que o aqui fixo vem de outro lugar. Furtivo, subfurtivo, formo-te, transformo-te nesta transitividade, meu fim, meu vocativo, e assim torno a voltar, para revoltar, para exprimir, re-primir a espera. Fala do fim, fala do máximo fim. Não, fala do fim que posso, fala do nosso fim. Não, fala do fim do euvou, do teu voo, do início do chegar, do vaziante, vazante, do que te faz, surpreendentemente raramente, busca inapta para o encontrar, busca do mais atrás, do que era, era do então das ruínas, antes do entulho ser tudo. Falo da minha fala ainda o que não fala, circulo o circuito enquanto o que não circula. Vê o que resiste, como, ouve o que não entra. Averigua minha fala.
Contudo, não ousaria concluir, que é para lá que isso vai. Por isso, um dia em que nem os cacos, mas o que me dispõe em direção ao erro, errar do que ainda é preciso decidir indisponibilizável, indisponibilizado que exige. Sopro do depois, que arranca teus índices, perde-os, deixa-os, assume a ruína deste destino que estás a cumprir, retira-te do firme. Onde eles são ninguém, eis, ninguém é eles. Certamente teria sido menos alguma coisa ter me controlado no primeiro talvez, não para voltar, é claro – e deixar de ser estúpido –, mas, ter ficado nesse talvez, também não sei responder a isso, sem me dignar a berrar, nem tocar no assunto do cansaço, eis o que faria então depois que terminasse aqui.
Experiência do nu, que, cego sem chão, não dispõe de âncora, a boca flui, dejeção irregular na escuridão, desde-sobre ruínas irreconhecidas, entulhos de um irreconhecível monumento, no enquanto disso, boca descoordenada suportada por ruínas-cacos que se chamariam casa, que se chamaria eu, nós.



What can I become given the contemporary order of being?
Foucault

If one wishes to use this word [subject] — why? But why not? — one ought perhaps to speak of a subjectivity without a subject: the wounded space, the hurt of the dying, the already dead body which no one could ever own, or ever say of it, I, my body.
Blanchot - The Writing of the Disaster


... que seja com a linguagem deles, será um começo, um passo rumo ao silêncio, rumo ao fim da loucura, a de ter que falar e não poder, salvo de coisas que não me dizem respeito, que não contam, nas quais não acredito, das quais me entupiram para me impedir de dizer quem eu sou, onde estou, de fazer o que tenho de fazer... Testemunhar por eles, até que eu morra disso, como se pudesse morrer nessa brincadeira, eis o que eles querem que eu faça. Não poder abrir a boca sem os proclamar, a título de congênere, eis a que creem me haver reduzido. Ter colado em mim uma linguagem da qual imaginam que nunca poderei me servir sem me confessar de sua tribo, a bela astúcia. Mas vou dar um jeito nela para eles, na sua algaravia. Da qual nunca entendi nada de resto, não mais do que das histórias que ela carrega, como cachorros mortos. Minha incapacidade de absorção, minha faculdade de esquecimento, eles as subestimam. Querida incompreensão, é graças a ti que deverei ser eu mesmo, por fim.
Beckett- o inominável

terça-feira, 14 de maio de 2013

frio (2)

They are playing a game. They are playing at not playing a game. If I show them I see they are, I shall break the rules and they will punish me. I must play their game, of not seeing I see the game.
R. D. Laing - knots


En définitive, c'est toujours la société qui se paie elle-même de la fausse monnaie de son rêve.
Mauss; Hubert - esquisse d’une théorie générale de la magie


A illusio é estar preso ao jogo, preso pelo jogo, acreditar que o jogo vale a pena ou, para dizê-lo de maneira mais simples, que vale a pena jogar. (...) Interesse é ‘estar em’, participar, admitir, portanto, que o jogo merece ser jogado e que os alvos engendrados no e pelo fato de jogar merecem ser perseguidos; é reconhecer o jogo e reconhecer os alvos.
Bourdieu - razões práticas






The bats are in the belfry
the dew is on the moor
where are the arms that held me
and pledged her love before
and pledged her love before

It's such a sad old feeling
the fields are soft and green
it's memories that I'm stealing
but you're innocent when you dream
when you dream
you're innocent when you dream

I made a golden promise
that we would never part
I gave my love a locket
and then I broke her heart
and then I broke her heart

Running through the graveyard
we laughed my friends and I
we swore we'd be together
until the day we died
until the day we died